HEBRAICO: UM IDIOMA COMPLEXO E FASCINANTE
Vamos brincar de adivinhar. Qual a língua que quase morreu e foi ressuscitada, sendo hoje falada em vários cantos do mundo? Não descobriu? Aqui vai mais uma dica: não possui vogal na escrita e lê-se da direita para a esquerda. E agora ficou mais fácil?
Colaboração de Villi Braverman
Sim, estamos falando do hebraico. Mas precisamente, do Ivrit – transliteração do nome desse idioma – que existe há mais de dois mil anos.
E apesar de tanto tempo de existência, passou mais de 1700 anos esquecido. Somente no Século XIX, foi revitalizado tornando-se uma língua moderna. Hoje, além de seu emprego sagrado na liturgia judaica, é a língua oficial de 8 milhões de pessoas em Israel. “Hebraico é uma das línguas que domino. Aprendi a falar ler e escrever ainda criança, pois fui alfabetizado em uma escola judaica tradicional de São Paulo; onde voltei a morar, após longos anos residindo em Israel como imigrante” conta Villi Braverman, tradutor do idioma. E já acostumado com a curiosidade das pessoas, completa: Quando me perguntam como é morar em Israel, respondo que é tão complexo e ao mesmo tempo tão fascinante quanto o hebraico, que é apenas um dos idiomas oficiais do país.
A maior parte dos Judeus que vivem em Israel migrou de diferentes nações nos últimos 60 anos (tanto no período antecedente quanto posterior a criação do Estado). Essa diversidade faz com que cada um carregue consigo um jeito distinto de entendimento da construção da língua e pronúncia do idioma, no qual inexistem vogais nas palavras escritas e as sentenças não possuem verbos de ligação. Algumas palavras podem ser escritas e pronunciadas da mesma maneira e serem aplicada em diversas situações. Por exemplo, usando a palavra “shalom” é possível abrir uma conversa; atender ao telefone; abordar atendentes numa loja de departamentos; cumprimentar um amigo, despedir-se de um parente depois de um jantar familiar e ainda, fechar a mesma conversa. Além disso, também existe uma simbologia por trás dessa palavra que possibilita ansiar e compartilhar do maior desejo de todos, a paz.
Os vocábulos em hebraico originam-se, a grosso modo, de uma raiz de três consoantes que indicam a essência do significado daquela palavra. A essa raiz agrega-se prefixos e sufixos. Um sistema de símbolos, chamado nikud, representado por pontos e traços curtos e retos, que podem ou não aparecer abaixo dessa raiz no texto escrito, indicam para o iniciante – ou aos que desconhecem aquela palavra, sua sonoridade. Complexo e fascinante. Em um primeiro momento pode até parecer estranho não existirem vogais na escrita, mas decorrido curto espaço de tempo, é intuitivo para nosso cérebro agregar as vogais faltantes. “Em especial, à medida que nosso vocabulário se expande. Mas até aí, num alfabeto distinto, escrito de trás para frente, localizar-se [e permitam-me o trocadilho] pode não ser tão simples. Só depois de muito tempo de volta ao ocidente é que me dei conta do hábito adquirido de ler as revistas iniciando pela última página!”, confessa Braverman.
E para terminar esse breve passeio pelos encantos dessa língua, outra curiosidade. A estrela [ou escudo] de David, símbolo maior do judaísmo, enquadra as formas de todos os caracteres do alfabeto, o que facilita o exercício da caligrafia. Aqui está uma característica do idioma menos complexa e ainda mais fascinante! Ao korê (transliteração de leitor em hebraico), deixo um shalom!