JAPONÊS: MISTÉRIOS DO ORIENTE
Idioma oficial de 127 milhões de pessoas, entre elas japoneses e habitantes da Coréia, Taiwan, partes da China e várias ilhas do Pacífico, o japonês tem chamado cada vez mais a atenção do mundo. Peculiaridades da cultura e as próprias características do idioma podem, no entanto, tornar o trabalho de tradução um desafio intransponível.
Por Juliana Tavares Terra do Sol Nascente. A expressão, utilizada mundialmente para designar o Japão devido a sua posição geográfica em comparação com a China, vem do kanji – um dos cinco sistemas de escrita japoneses. Entre eles rōmaji (caracteres latinos), kanji (de origem chinesa), hiragana (caracteres fonéticos usados em terminações flexionais de adjetivos e verbos, partículas gramaticais e palavras para as quais não há kanji), katakana (caracteres fonéticos usados em palavras e nomes estrangeiros, além de onomatopeias), e os algarismos indos-arábicos.
Há, ainda, a profusão de palavras incorporadas ao japonês, adaptadas de outros idiomas, por conta da globalização, como é o caso de “biru”, do inglês “beer” (cerveja);e “toire”, do francês “toilette” (banheiro).A origem do idioma é controversa. Entre as hipóteses possíveis, uma foi amplamente divulgada em 1730 pelo oficial sueco Philip Johan von Strahlenberg , que inseriu o japonês na família de línguas Altaic, de onde teriam saído o turco, o mongol e o coreano. Outra hipótese, compartilhada por vários linguistas históricos japoneses, sugere uma teoria “híbrida” que o enquadra à família de Altaic, com influências lexicais dos idiomas da Oceania e sudeste da Ásia, entre eles aborígenes de Taiwan, grupos étnicos do Timor Leste, Indonésia, Malásia e outros.
Foi apenas com a introdução do sistema de escrita chinês, há 1.500 anos, que os japoneses iniciaram o registro do seu idioma por poesia e prosa. Antes disso, o japonês era restritamente um idioma falado.
Muita coisa mudou no idioma, desde então. Chamado, naquela época, de japonês velho, tinha oito vogais – embora hoje só apresente cinco. Escrito tradicionalmente na vertical, com as linhas a partir do lado direito da página, já há uma versão do japonês idêntica aos idiomas ocidentais, escritos em linhas horizontais a partir do lado esquerdo. Para facilitar a proliferação do idioma, em 1946, o governo japonês definiu 1850 caracteres para uso diário – ampliando a lista, em 1981, para 1945 caracteres.
Apesar disso, vários dialetos são falados no Japão, que diferem em termos de acento tonal, morfologia, vocabulário, uso das partículas e pronúncia. Alguns dialetos, mais raramente, variam até no repertório de vogais. Motivo pelo qual é comum, entre a população, pessoas fluentes no seu dialeto local e no japonês oficial.
Enfrentando o samurai
Língua aglutinante, cujas palavras são formados pela união de morfemas, o japonês se caracteriza por um complexo sistema de construções honoríficas que refletem a natureza hierárquica da sociedade japonesa, com formas verbais e vocabulários particulares que variam de acordo com o status relativo entre interlocutores. Seu desconhecimento pode causar graves faltas de respeito. Ironicamente, as formas polidas do idioma não são bem conhecidas nem mesmo pelos japoneses, que participam de cursos especiais para o seu uso no ambiente de trabalho.
gramática é relativamente simples e regular – o que permite o seu aprendizado de forma até bastante rápida. Os verbos são conjugados em dois tempos, chamados tecnicamente de “passado” e “não passado” (que inclui presente e futuro). Não há flexões de número e pessoa. Além disso, os substantivos não têm gênero, nem número e não se flexionam. A palavra hon, por exemplo, pode significar “um livro”, “o livro”, “alguns livros” e “os livros”.
Apesar de, aparentemente, mais fácil que os demais idiomas, as suas peculiaridades tornam a tarefa de entender a língua e, consequentemente, traduzir documentos em japonês, um desafio restrito a especialistas.
Por utilizar quatro sistemas de escritas diferentes, a tradução de documentos do japonês para qualquer outro idioma requer conhecimentos pictográficos e ideográficos, além dos compostos simples e compostos com leitura, sob o risco de cometer equívocos de interpretação. É por essa razão que se diz que para aprender japonês, decorar os vários significados de um kanji isolado não é a melhor alternativa. Para tanto, há que se aprender os significados dos kanji através de palavras e frases em japonês, de forma a contextualiza-los no texto.
Embora haja uma contagem genérica, no japonês, assim como no coreano, usa-se uma forma diferente de contagem para cada tipo de coisa: para pessoas, para animais grandes, para animais pequenos, para máquinas, para frutas, e por aí afora.
Não restrita apenas ao idioma japonês, a arte da tradução de documentos para qualquer língua requer conhecimento especializado às diferenças culturais que influenciam o raciocínio no uso de palavras, construções frasais e pronúncia.
Apesar de ser um idioma restrito a poucos países, o aumento de oportunidade de trabalho nas empresas japonesas que têm entrado no mercado global nos últimos anos e a popularidade dos quadrinhos e animações japoneses (os mangás e animes) estimularam mais de 3 milhões de pessoas ao redor do planeta a aprender a língua da terra do sol nascente. A tarefa, porém, não é simples e essa matéria apontou os motivos que tornam a tradução de documentos em japonês alto grau de especialização.